A vida de nômade digital na África do Sul

set 22, 2022 Nomadismo Digital

Fiquei de março a junho na África do Sul (90 dias exatos) neste ano de 2022 e, ao contrário do que muitas pessoas pensaram, não estava de férias, nem num sabático, nem sustentada por pai e mãe e afins. 

Vou organizar um pouco do que foi essa experiência, enquanto nômade digital freelancer, em outro país, com fuso de +5, inglês como língua predominante e tantos outros desafios (e maravilhas).

Cidades que visitei

A jornada começou na Cidade do Cabo (Cape Town), uma das capitais da África do Sul (sede do legislativo). Sim, o país tem outras 2 capitais, sendo Pretória a sede do executivo e Bloemfontein a sede do judiciário. Não cheguei a conhecê-las.

Além da Cidade do Cabo, visitei Stellenbosch e Franschhoek, cidades muito conhecidas por suas vinícolas (os vinhos africanos são excelentes!); e fiz duas viagens de carro em um trecho bem conhecido e turístico do país: a Garden Route.

Estrada na África do Sul | trecho da Garden Route

Cidadezinhas em que parei na Garden Route: Muizenberg, Hermanus, Cape Agulhas, Knysna, Tsitsikamma, Jeffreysbay, Port Elizabeth, Chintsa e Coffee Bay. Os dois últimos destinos (Chintsa e Coffee Bay) não fazem parte da Garden Route, mas incluí no roteiro e nem tenho palavras para dizer o quanto valeu a pena. São destinos menos explorados, de mais difícil acesso, mas com uma natureza incrível.

Chegando ao fim de viagem, fui para o Kruger, o maior safári da África do Sul; fiz a conhecida Rota Panorâmica de carro, e, em seguida, me hospedei os últimos 10 dias em Joanesburgo, onde pude visitar o Museu do Apartheid (completíssimo e fundamental para se aprofundar nessa parte triste da história que marca o país), dentre outros pontos turísticos.

Onde fiquei hospedada

Na Cidade do Cabo me hospedei sempre em hostel, explorando bairros e vizinhanças distintas. Poderia sugerir que era a intenção desde o início, mas a verdade é que eu não teria condições de bancar Airbnb por lá.

Vista da varanda de um dos quartos compartilhados do Mojo Hostel, na Cidade do Cabo. ☝️

Como referência, troquei o sonho de morar sozinha por viver remotamente. Aqui no Brasil, tenho conseguido, até então, fechar Airbnbs completos por aproximadamente R$2.000,00/mês. Isso inclui todas as contas: água, luz, internet. Esse mesmo valor eu só consegui converter para hostel com quarto compartilhado. Foi uma forma completamente nova de viajar para mim.

Quando pesquisava por Airbnbs, os preços já começavam nos R$3.000,00 em diante. Se você tem companhia pra viajar e pode dividir os custos, considero viável. Se não vê problema na vida de hostel, aqui listarei todos em que fiquei. Nas demais cidadezinhas durante a Garden Route, as hospedagens já variaram bastante, sendo cerca de uma diária por cidade. Usei o Booking ou Airbnb para todas as reservas.

E em Joanesburgo, aluguei um quarto privativo de Airbnb que, sim, saiu mais caro, mas foi o sossego que eu precisava depois de tantas trocas para focar em alguns trabalhos.  

Lista de Hostels onde fiquei na Cidade do Cabo:

  • Mojo Hostel
  • A Sunflower Stop Backpackers
  • Never at Home Green Point
  • Vila Viva Cape Town

Hostels durante as viagens de carro (na Garden Route):

  • Hermanus Backpackers (Hermanus)
  • Cape Agulhas Backpackers (Agulhas)
  • Tsitsikamma Backpackers (Tsitsikamma)
  • Coffee Shack Backpackers & Surf School (Coffee Bay)

Moeda e Custo de Vida

R$1,00 (um real) equivale a 3,35 rands (moeda sul-africana) no momento (09/2022). Significa que tudo era muito mais barato pra brasileiro? Não necessariamente. Tirando a parte de hospedagem, que saiu até mais caro em relação ao Brasil, os demais consumos eram similares a grandes cidades, com algumas particularidades.

A quem interessa, vinho é bem mais barato por lá 🍷(eu amo!). Já na parte de alimentação, você precisa ter cuidado se não quiser cair nas inúmeras opções de restaurantes (não tão baratos) por lá. Eu priorizei cozinhar no dia a dia.

Dá pra gastar muito, como também dá pra gastar pouco; vai do orçamento de cada um.

E ressalto: há muitas opções de lazer gratuito na Cidade do Cabo (onde concentrei mais de 2 meses), como praias, trilhas, parques, points para o pôr do sol e afins.

Alimentação

Em 3 meses na África do Sul não entendi bem o que representaria a culinária local. Mas eles têm alguns hábitos em comum com a gente.

Restaurante local na Cidade do Cabo | África do Sul ☝️

A imagem acima é de um dos restaurantes que visitei bem no centro da Cidado do Cabo e que servia essa comidinha delícia (arroz, tutu, banana, inhame, frango…) em estilo similar ao self service (podendo montar o prato), mas com a diferença de que: pagamos valores diferentes pelo kg de cada item escolhido (arroz, frango, legumes etc). E também não somos nós quem nos servimos.

Além desses itens comuns nas vitrines quentes de muitos mercados, eles têm o hábito de, quase que semanalmente, fazer um Braai (modo como se referem ao nosso “churrasco”). Lógico que não há nenhuma de nossas delícias complementares (feijão tropeiro, mandioca, farofa, pão de alho…). O Braai dos sul africanos inclui carnes, frango e, geralmente, saladas para acompanhar.

Gestão do trabalho

Estação de trabalho no hostel Never at Home, na Cidade do Cabo☝️

Essa viagem foi um mix de desafios na vida:

  • Minha primeira viagem internacional após o pedido de demissão e uma vida 100% freela (post em que pontuei um pouco dessa virada). Equilibrava os custos de viagem (que precisaram consumir parte da minha reserva sim) com a gestão de ainda poucos clientes e a urgência em prospectar novos. Uma coisa eu posso recomendar: tenha sua reserva de segurança sempre; mas também coloque-se em movimento. Nunca me senti tão dona da minha própria vida e dos meus resultados.
  • O desafio da língua (não vou vender uma fluência no inglês aqui não, amigos; e tenho é ranço de quem fica romantizando o quanto é fácil, o quanto temos contato com a língua o tempo todo; foi cansativo pra caramba).
  • O troca-troca de estadia, sem a estação fixa de trabalho. Como sentia falta de uma vida sem roupas na mochila, computador no armário com cadeado, e com todas as facilidades de um Airbnb só pra você. O estilo de viagem, nesse quesito, regrediu e seguimos em adaptação.
  • O fuso de 5 horas à frente. Sou uma freelancer que possui sua agenda de reuniões com os clientes (faz parte do meu processo de imersão). Me planejei para agendar todas elas até, no máximo, 14h no Brasil (19h na África do Sul). Ainda assim, teve ocasiões em que um cliente só tinha o horário de 16h disponível (lá estava eu às 21h conduzindo reunião).

Cada um desses pontos diz mais sobre mim do que o que é ou não é um desafio em si. Aqui narro a minha experiência sob os meus pontos de percepção.

Mas, ainda em relação ao fuso, me surpreendeu o tanto que eu curti as horas à frente. Sou uma pessoa diurna, mas que sempre gostou de acordar com calma, priorizando as minhas atividades.

Consegui experienciar manhãs fora, explorando a cidade, e iniciando os trabalhos e encontros com os clientes na parte da tarde. Embora tenha me feito trabalhar até mais tarde, foi um ajuste na rotina que fez muito sentido pra mim.

E, claro, nos dias em que eu queria curtir a vida noturna da África do Sul, eu iniciava o dia de trabalho logo pela manhã, garantindo nenhuma reunião pro dia que me fizesse seguir o horário do Brasil.

Por que África do Sul?

Bom, primeiramente, por que não África do Sul? Espero que depois de algumas imagens, você já tenha se encantado um pouco daí. Ainda assim, preciso reconhecer que minha escolha foi mais racional do que você certamente imaginou.

  1. queria um país cuja língua nativa fosse o inglês (África do Sul tem 11 idiomas, sendo o inglês o mais utilizado no dia a dia);
  2. queria um país cuja moeda eu conseguisse bancar (1 real equivale a 3,43 rands).

Naquela de ir pesquisando no Google mesmo, fui me apaixonando por todas as belezas que poderia ver nesse país.

A cor dessa água, minha gente! Sem filtro algum 😍☝️

E 11 curiosidades aleatórias sobre o país

Bloukrans Bridge: o 4ª maior Bungee Jump do mundo, localizado na África do Sul ☝️
  1. Como já pontuei, a África do Sul tem 11 idiomas oficiais. Nesse ponto, sentia até vergonha de estar apanhando em um segundo idioma sabendo que a maioria ali falava, no mínimo, três (já aprendem na escola).
  2. Há cortes de energia programados semanalmente em todos os bairros e cidades do país, a fim de distribuir melhor esse recurso pra todo o continente africado. Cada corte durava cerca de 2 horas e todos os estabelecimentos e pessoas se preparavam para tal. O acompanhamento é feito pelo aplicativo EskomSePush.
  3. Quando o feriado cai no fim de semana, eles sempre passam pra segunda-feira. Eles jamais entenderiam a nossa frustração haha
  4. O país segue as mesmas estações do Brasil, com clima “semelhante”: seco e frio no inverno, e quente e chuvoso no verão. Mas destaca-se o venta forte muito predominante e o inverno mais intenso! Um casaco corta vento é sempre indicado, assim como um hidratante labial.
  5. Não se vende bebidas alcoólicas (com exceção do vinho) em supermercados comuns. Você precisa ir em distribuidoras específicas.
  6. Não se pode beber na rua; apenas em estabelecimentos fechados. Logo, aquela vibe de boteco com mesa na rua você não encontrará por lá.
  7. Na Cidade do Cabo, há uma festa de rua realizada toda primeira quinta-feira do mês. Eles chamam de “First Thursdays”. Me remeteu à vibe de carnaval que vivemos anualmente, em escala muuuito menor, só que tocando eletrônico 😩 haha Nessa festa, eles delimitam o início e fim da rua para concentração (entre a Wale Street e a Long Street), proibindo que se saia desse espaço com bebidas alcoólicas (referente ao tópico anterior).
  8. É ridículo como nem os restaurantes especializados em carne possuem facas decentes de corte (essa é a curiosidade mais aleatória que lerão sobre a África do Sul! haha). Era sofrível tanto cozinhar como comer na rua gerenciando facas naturalmente cegas haha
  9. Uma das 7 maravilhas naturais do mundo está lá (a Table Mountain), assim como o 4ª maior Bungee Jump do mundo (Bloukrans Bridge)! (Eu nem considerei saltar, mas acompanhei dois amigos)
  10. Com o passaporte brasileiro você pode ficar até 90 dias no país, sem precisar de qualquer visto.
  11. Por fim, não poderia deixar de comentar: os reflexos do apartheid ainda se fazem muito presentes nas relações de trabalho do país. A desigualdade é uma realidade gritante que fica um pouco mais maquiada na perspectiva de bairros nobres de uma cidade, como a Cidade do Cabo, mas ainda muito evidente.

Pré-requisitos que eu cumpri pra ir à África do Sul

  • Passaporte com validade de pelo menos 2 meses após data de retorno de viagem;
  • Certificado internacional de Vacina de Febre Amarela;
  • Comprovante de Vacina Covid-19 (versão em inglês);
  • PCR Negativo 72hrs antes do embarque (acredito que não seja mais necessário).

Outros itens importantes pro nômade digital em viagem internacional

Utilizei o SafetyWing, um seguro saúde próprio pra nômades digitais. Embora tenha torcido o pé durante a minha viagem, optei por não ir ao médico, portanto não tenho experiência a relatar. Pesquise o que se encaixa melhor pra você, mas não deixe de viajar assegurado.

Todas as minhas transações financeiras foram feitas pelo cartão Wise. Ele é um ótimo meio para gerenciar várias moedas ao mesmo tempo, com boas taxas de conversão.

Vamos viajar!

Espero que o artigo tenha te inspirado a conhecer a África do Sul! Se já pôde conhecer, me conta como foi sua experiência? O que faltou destacar aqui? 💛

Com as informações que forem me vindo em lembrança, pretendo seguir otimizando este artigo 🙂 Há tantos momentos e fotos na galeria que é até difícil organizar….

Se ficou com alguma dúvida ou curiosidade específica, me deixe saber nos comentários 🙂

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