Preciso dizer que este artigo é destinado, primeiramente, a mim, e trata, especialmente, sobre alguns impactos que notei da minha atenção prejudicada às pessoas em contextos diversos.
Alinhados quanto a isso, vamos ver se te ajuda também. 😉
Você não consegue citar características aleatórias das pessoas
Por que este relacionamento existe? Pois então este é o seu foco. Tudo que passar disso, sequer tem chance de se conectar contigo.
Exemplo? Pense em um parceiro de trabalho, líder ou liderado. Pela boa educação, você sempre pergunta como ele está, o que fez no fim de semana etc. Mas se alguém te perguntar um pouco mais sobre a pessoa, seus hobbies e interesses, se ele curte determinada comida, ou outra coisa aleatória, você se constrange por não fazer a menor ideia.
É lógico que, no dia a dia, muitas informações acabam sendo trocadas, mas, no geral, você armazena pouquíssimo das pessoas.
Você é ágil em criticar e lento(a) em elogiar
A facilidade em criticar diz muito mais sobre você do que sobre a ação do outro. Sempre é sobre algo que, na sua linha de entendimento, com base nas suas referências, não faz sentido. Enquanto um ser autocentrado(a), é fácil identificar e levantar esses “erros”. Queremos compartilhar o que sabemos, mesmo ignorando uma gama de novas possibilidades. Em contrapartida, a facilidade em elogiar não anda em igual proporção.
No âmbito profissional, é fácil identificar isso. Pense nos seus colegas de trabalho e em tudo aquilo que poderia discordar deles e do seu modo de trabalho. Mantenha as mesmas pessoas em pensamento e agora conte sobre seus bem feitos e sobre aquilo que você já aprendeu com elas. Foi mais difícil ou não?
Não sei, ao certo, o seu ponto de evolução, mas acredito que precisamos ser mais justos com quem divide o dia a dia com a gente. Inevitavelmente, conheceremos seus dias ruins e suas ideias falhas (ou apenas em maturação). Mas, igualmente, temos o privilégio de interagir com seus dons, genialidades e talentos naturais. Dê ibope pra isso também.
Você facilmente interrompe a linha de raciocínio alheia
A pessoa mal introduziu sua fala e você já está ali em postura de discordância com argumentos prontos para contestá-la.
Não importa onde ela gostaria de chegar, você simplesmente já “sabe” que ela está equivocada e quer poupar tempo, demonstrando pressa pra emitir sua opinião e concluir o assunto.
Você julga precipitadamente
Por não prestar real atenção nas pessoas, você dificilmente as concede o benefício da dúvida.
Em qualquer ato, aparentemente, falho, você é o(a) primeiro(a) a acusar ou a solicitar esclarecimentos. Por vezes, é constrangido(a) por não ter simplesmente perguntado “Está tudo bem contigo? O que houve naquele dia?”.
Você está sempre ocupado(a) demais para parar o que está fazendo
“Pode ir falando enquanto termino de editar isso aqui?”, “Estou te ouvindo, mas não posso parar isso aqui”, “É rápido? Tô sem tempo…”.
Usa frequentemente alguma dessas frases? Pois bem, será que 5 minutos de atenção plena te faria realmente tanta falta?
Você dificilmente lembra o nome das pessoas
Aaaah mas isso é uma questão de memória, perfil, ponto forte ou outra coisa… Será?
Eu sou péssima pra lembrar o nome das pessoas, mas preciso admitir: acredito que isso tenha total relação com a minha necessidade de desenvolver a escuta ativa.
Ouvir, com toda sua atenção; conectando-se, de fato, com o que a pessoa tem a dizer; permitindo-se mudar de ideia; assumindo o risco de perder (argumentos, verdades, crenças). Se assumimos esse lugar, não teríamos até mais curiosidade para conhecer verdadeiramente quem se comunica conosco?
Não quero ser utópica aqui. Não pretendo (nem acho que devo) assumir esse papel com tooodos que abrem um diálogo comigo. Preservo meu espaço e meu direito de escolha (sim). Maaaas, também acredito ser de grande valia identificar que “memória ruim” às vezes significa só falta de interesse mesmo. Em certas situações (e em padrões repetitivos), vale reavaliar.
O que tento fazer a respeito?
Digo “tento” porque tudo é um processo. Não narro uma jornada do herói aqui. Não tem case de sucesso ou depoimento externo para dizer o quanto mudei de um dia pro outro.
O que tem é muita autoanálise. Faz parte do autoconhecimento identificar nossas fraquezas e aquilo que precisamos fazer por nós e pelos outros. Por isso, vou detalhar um pouco o meu processo.
Comece fingindo atenção 👀
Eu acredito muuuito no poder de fingir ser o que não é, até que, de fato, seja. Sorria mesmo quando não está feliz e, com o tempo, certamente passará a sentir alegria. Exercite-se fingindo ter energia e, certamente, passará a ter energia. Simule a gratidão e, com o tempo, será grato. Finja atenção e, logo mais, perceberá-se mais atento(a).
A mudança não vem de um dia pro outro. Vamos tirar as máscaras, no sentido de reconhecer as fragilidades e o próprio egoísmo (mesmo que pontual). Em seguida, atue como um impostor das próprias fragilidades.
Para fingir atenção, treine nunca olhar o celular enquanto conversa com alguém. Treine não se distrair com outros eventos. Nos primeiros testes, se você está viciado no autocentramento, você, com certeza, viajará no pensamento. Mas treine fingir presença e tirar, no mínimo, uma informação relevante daquele diálogo.
Estimule-se de forma contínua até que pare de atuar e passe a agir em novo modus operandi.
Tome notas 📝
Em continuidade ao item anterior, eventualmente me pego fazendo listas sobre pessoas do meu convívio próximo. Em geral, das informações bestas mesmo, mas que criam conexão.
Um filme que ela comentou ser seu favorito, a música da vida, a banda preferida, um momento marcante, uma história engraçada, o que for.
São essas pequenas coisas que constroem intimidade, as piadas internas, as referências únicas de uma relação. Vale para parceiros românticos, para colegas de trabalho, para um bom vínculo com o chefe ou liderados. A capacidade de criar conexão é o que fará desse relacionamento algo construtivo e prazeroso ou não.
Também poderia tentar dizer que a necessidade de anotar vem de uma memória prejudicada. Mas, em geral, acredito que a gente lembra do que quer, do que é, de fato, importante pra nós. Enquanto não desenvolvemos o real interesse em abrir espaço para o universo do outro (com escuta realmente ativa), vamos criando meios de chegar lá.
E, claro, sejamos generosos conosco: a depender da pessoa, suas referências podem fugir completamente do nosso universo de conhecimento. Nesses casos, anoto mesmo, pois dificilmente me lembraria de um nome/filme/curiosidade que sequer tinha escutado antes.
Crie referências na sua cabeça 🧠
Crie a habilidade de ouvir construindo referências. O nome da pessoa que é o mesmo do seu tio. O filme, que você nunca viu, mas que tem como protagonista aquele ator famoso. A banda, que você nem curte, mas que tem um nome que te lembra alguma história.
Não tenho como conhecer sua linha de raciocínio, mas estimule sua memória, construindo pontes entre o que a pessoa compartilha e aquilo que você já conhece.
Entenda a sua vulnerabilidade em questão 🧘
Precisei de certo tempo pra entender que não há “glamour” algum em “não ter tempo”. Não há glamour em “estar sempre ocupado”.
Se você não consegue desligar-se do mundo por 5 minutos para ouvir, de fato, o que seu colega, familiar, ou alguém no meio da rua tem a dizer, o problema tá contigo e não com os outros. Reavalie seus “processos” e aquilo que tem definido como produtividade.
Há tempo sim.
E, além disso: duvide mais da sua própria razão! Dar voz ao outro é ampliar a nossa possibilidade criativa e ganhar muito mais espaço para a inovação. Somos feitos de comunidade.
O que posso esperar de resultado?
No campo pessoal, relações de mais confiança, trocas mais significativas, uma presença marcante e agradável. Todo mundo sabe como é bom ter um bom ouvinte e alguém que realmente presta atenção em você. Basta saber se você também consegue promover essa experiência aos outros (ou à maioria das pessoas do seu convívio).
No campo profissional, além de melhores relações entre colegas de trabalho e mais espaço para grandes ideias, eu diria sobre melhores relações entre prestadores de serviços e seus clientes.
Quando se fala de marketing humanizado, por exemplo, fala-se sobre escuta. Muitos profissionais focam no ponto de “dor” do cliente para potencializar a venda na exploração de uma vulnerabilidade. Mas, se eu me conecto, de fato, essa troca ganha um peso autêntico e de real valor. Eu não quero explorar sua vulnerabilidade, mas quero conhecer o seu problema/a sua visão de mundo a fundo, para saber o que posso te oferecer.
Nesse momento, novos negócios podem surgir. Soluções podem ser completamente inovadas e por aí vai. Finalmente, não se trata de encontrar um argumento de peso ao meu produto/serviço, mas de encontrar uma solução adequada para a minha comunidade.
Ouça mais. 💙