Atrair > Converter > Relacionar > Vender > Analisar. Aquela formulinha do sucesso que replica o que há de mais natural no dia a dia: a interação humana.
Talvez você não reconheça de imediato, mas esse ciclo se repete entre amizades, acordos comerciais, flertes e romances: algo te chama atenção (ou é você quem chama atenção); surge um interesse em criar conexão; você passa a investir na relação; você se vende (ah sim, aqueles perfis levemente ajustados que assumimos diante de determinados grupos ou pessoas); e segue constantemente analisando e sendo analisado (faz parte).
Sendo a estratégia tão cotidiana, fazemos bem estudando-a por meio de referências tão técnicas de mercado?
Peço a licença para analisá-la por meio de 4 filmes que, mesmo que você não goste do gênero, certamente já assistiu ou sabe um pouco da história.
Armações do Amor (Failure to Launch)
Estrelado por Matthew McConaughey, o personagem Tripp é o tal galã de 35 anos, aparentemente bem-sucedido, mas que, por motivos revelados no decorrer do filme, ainda mora com os pais.
Para reverter a situação, seus pais contratam Paula (representada por Sarah Jessica Parker), profissional especializada nesse “tipo de serviço” (dar independência aos ditos “filhinhos de papai”).
Fórmula de Paula para o que ela diz fazer seus clientes “alçarem voo”:
- ela simula uma relação amorosa a fim de aumentar a autoestima do cara (etapa de atração);
- promove um encontro memorável (etapa de conversão);
- permite que ele a ajude em alguma crise emocional (etapa de relacionamento);
- conhece os amigos dele (etapa de relacionamento com aquele senso de comunidade e com uma pitada de venda pessoal);
- deixa que ele o ensine algo (é bastante sobre relacionamento, percebe?).
Seguindo esses passos, ela garante aos pais: “ele se liga a mim e se desliga de vocês”. “Como tem certeza de que ele se apaixonará por você?”, ainda questiona o pai de Tripp com tom de dúvida.
“Descubro o que eles gostam e finjo que também gosto”, Paula responde prontamente. Estratégia pra lá de forçada. Te lembra algo?
Nota da estratégia: 5 😐
Como muitas empresas insistem por aí, não há exatamente um estudo da persona, mas a aplicação de uma fórmula já testada para o “sucesso”, por meio de 5 passos.
A grande “sorte” de Paula, e pra fazer valer o gênero do filme vai, é que há, de fato, química entre os dois.
Em dado momento, Paula identifica que Tripp não corresponde à sua persona primária. Ele, na verdade, é um cara bem interessante e galanteador, diferente de todos os outros inseguros com quem já lidou.
E, embora ela tenha atuado, manipulado e se passado por outra pessoa, dois méritos são dela: o de conquistar a atenção ☑️ e se dispor a ouvir o seu “alvo” em todo tempo ☑️.
Uma vez que se instalou um relacionamento autêntico, toda harmonia se fez presente. “Venda” concluída ☑️ com direito a todos os benefícios da oficial parceria.
Não é que pode ser possível reconquistar sua “persona”?
A verdade nua e crua (The Ugly Truth)
Protagonizado por Katherine Heigl (personagem Abby) e Gerard Butler (o Mike), neste filme temos a clássica contraposição dos gêneros com todos os estereótipos possíveis.
Abby, um tanto controladora e sonhadora, deseja conquistar seu vizinho. Mike, um tanto egocêntrico e tosco, garante que, sem a ajuda dele, isso será impossível.
Então, vamos nós para mais uma investida conduzida à base de manipulação.
Fórmula de Mike embasada em 4 regras:
- nunca faça críticas;
- ria de tudo que ele disser;
- adapte o visual (cabelo curto e roupas confortáveis estão fora de cogitação);
- nunca fale sobre seus problemas.
Bom, nesse caso, nem o gênero do filme salvou a completa ausência de autenticidade e exclusão de todas as características reais da personalidade de Abby. A completa desconexão com sua essência para seguir um protocolo só poderia resultar em dois caminhos: um relacionamento de infelicidade; ou na inevitável farsa desmascarada.
Para salvar esse desastre e confirmar o poder de ser honesto com a sua audiência (além de validar o gênero do filme, claro), durante toda a atuação de Abby, por trás das cortinas estava Mike se apaixonando por ela em todas as inseguranças, pensamentos espontâneos e ações não calculadas.
Já é óbvio dizer que a falta de verdade não é sustentável, certo? Abby até consegue fazer com que seu vizinho se encante por ela, mas, ao questioná-lo quanto aos motivos, era exatamente por tudo que ela não era.
O fracasso veio da insustentabilidade de manter o teatro. Embora a audiência não tenha notado a farsa, a fonte de conteúdo esgotou, juntamente com aquele relacionamento.
Agora, imagine-se fechando um contrato com a empresa/persona dos sonhos, embora você saiba que não pode entregar o que ela indicou como interesse. Como pretende seguir com essa parceria? E, me conta, que profissional da área nunca viu isso acontecer?
Voltando ao roteiro, Abby tinha um compromisso quase admirável, se não fosse tão invasivo. Ao saber exatamente o perfil de homem que desejava (ela tinha uma lista), ela colocava isso em rápida avaliação a cada potencial parceiro.
Para um romance, um tanto exagerado e obsessivo. No mundo dos negócios, poderia até fazer certo sentido; mas não esqueçamos do fator humano: permitir-se a vulnerabilidade e dar espaço de fala ao outro pode nos fazer identificar pontes até então desconhecidas.
Pare de supor verdades acerca do seu público. Interaja, de fato, com ele.
Outro ponto interessante de análise: a abordagem inicial de Abby tendia ao desespero. Sabe o tal vendedor com pressa de vender? Pois é. Por mais interessante que seja você (ou sua proposta), o jeito como a defende e respeita o espaço e tempo do outro, conduz grande parte do resultado.
“Quem você tem sido?”, Colin pergunta. “A garota que um idiota mandou ser”, responde Abby. Pode parecer agressivo, mas e você? E sua marca? Quem têm sido: o que realmente representa o seu negócio ou a tentativa constante de espelhar seu concorrente ou o mercado, em geral?
Nota da estratégia: 1
Teve resultados? Em parte, sim. Mas nada sustentável e honesto, né? 👎
No que se refere ao breve relacionamento de Abby com Collin, a “venda” chegou a ser feita, mas que péssimo negócio, não?
Não houve sequer 1 segundo de verdade no relacionamento. A nota só não ganhou um zerinho redondo porque, vamos combinar, pra manipular o esforço e energia gastos são até maiores. Além disso, existiu dignidade no rompimento da relação.
Com a experiência, imagino que Abby percebeu que ser ela mesma será sempre o caminho mais acertado.
Hitch – Conselheiro amoroso (The cure for the common man)
Eis que começamos a ter um propósito de negócio mais claro aqui (com todo respeito à Paula e à Mike).
Alex Hitch (estrelado por Will Smith), depois de muito errar e de ser um fracasso com mulheres na adolescência, começa a estudar as mulheres e se dedica a ajudar outros homens a conquistar suas amadas.
Aqui, defendo seu propósito, pois, a princípio, toda sua argumentação cumpre com o papel de criar caminhos para que caras legais (mas inseguros ou que fujam do “padrão”) consigam ser vistos e chamar a atenção de mulheres pelas quais estão apaixonados.
Podemos comparar com a tal jornada do herói. Hitch venceu um desafio particular até que passa a dedicar sua vida para que outros homens, com a mesma dificuldade, tenham a mesma oportunidade. Bacana, né?
O problema é que as estratégias que ele usa para isso são bastante questionáveis. Ao ter como cliente Albert (estrelado por Kevin James), um contador apaixonado por uma celebridade, Hitch apela para tudo que acredita poder alcançar a persona em questão e faz de tudo para silenciar todo tipo de atitude reprovável de Albert. Bem similar ao filme anterior, né?
Viciado em fórmulas, Hitch reprime Alex imediatamente por sua dança escandalosa, hábito de usar a bombinha (ele tem asma), dentre outras características singulares de sua personalidade. Sua estratégia é quaaase boa, não fosse pelo fato dele dosar aquilo que é essencial para um relacionamento: a autenticidade.
No final, a surpresa: fica claro que Hitch vende algo que não acredita. Suas farsas e controles sobre a ação do outro são, também, parte do seu medo em se entregar com autenticidade. Ao se confrontar com essa realidade, quem sabe ele não se torna um profissional melhor?
Por fim, ao defender seu cliente diante de Allegra (a celebridade e persona em questão), ele diz que seu trabalho é tão somente criar oportunidades. Similar ao inbound marketing, né?
Nota da estratégia: 7
Passou de ano, mas dá pra melhorar vai 😅
Hitch conseguiu conduzir seu cliente a chamar a atenção da persona, convertê-la e transformá-la em uma oportunidade.
Seu erro foi tentar conduzir Albert à venda de qualidades e características que não são suas. Ainda assim, considerando que Albert conseguiu preservar sua autenticidade, o resultado da estratégia foi positivo ☑️ e rendeu até casamento.
Como se fosse a primeira vez (50 first dates)
Será este o case de sucesso do Inbound?
Estrelado por Adam Sandler (personagem Henry) e Drew Barrymore (Lucy) e inspirado em uma história real, este filme pode ser bem profundo no que se refere à questão: o que te faz se apaixonar por alguém/algo e querer nutrir um relacionamento?
Para o galanteador Henry, um simples papo no café da manhã o fez se encantar por Lucy e querer vê-la no dia seguinte. Ao descobrir que sua memória tinha validade de um dia, ele se dedica a conquistá-la DIARIAMENTE.
Sabe o que isso me lembra? Desse nosso esforço diário em comunicar com nossa audiência diariamente pelas redes sociais. Um supercompromisso, não?
No mundo de Henry, preciso reconhecer o talento: ele concilia o trabalho (que parece algo de meio período) com uma série de ideias criativas de um bom galanteador; é extremamente insistente, mesmo diante de um cenário nada favorável.
Para chamar a atenção de Lucy, Henry tentou ajudá-la com seu castelo de waffle; pediu ajuda com seu desenho (Lucy era professora de arte); fingiu não saber ler; simulou problema no carro no meio da estrada, uma briga na rua; passou-se por agente de trânsito; arriscou a vida de um pato que quase foi atropelado por Lucy.
O melhor desse início é que, não importava o resultado da ação, ou o fato de render um encontro ou não, lá estava ele no outro dia se fazendo presente, mapeando a interação e a resposta da sua “persona”.
Embora ele pudesse se concentrar em reproduzir apenas o que desse certo, ele estava mais interessado em conhecê-la mais sob diversas experiências.
Por meio de um vídeo, ele se dedica a trazer consciência pra Lucy. Seu intuito é tirá-la de uma vida de mentira para que ela possa continuar vivenciando coisas novas a cada dia.
NADA É melhor que o primeiro beijo.
Ela diz incontáveis vezes.
Ao tentar avançar na relação (se é que me entendem), existe uma barreira de percepção. Enquanto ela vivencia inúmeras primeiras vezes, ele está em seu 32º encontro.
Acordam juntos pela primeira vez, naquela intimidade depois de tempos de relacionamento. Mas, de novo, percepções diferentes. Ao acordar e não se lembrar de nada, aquilo só foi invasivo e muito assustador para Lucy.
Quando eles rompem o contato, Lucy passa a sonhar com ele todas as noites, comprovando a força de um sentimento estabelecido para que algo se torne, essencialmente, memorável.
“Você é a garota dos meus sonhos. E parece que eu sou o garoto dos seus sonhos”, diz Henry.
Nota da estratégia: 10
Ah fala sério, o contexto da personagem é pra lá de triste, delicado e específico. Ainda assim, ele se compromete a diariamente inovar em suas abordagens, pensar em novas formas de chamar atenção, mapear suas interações e fazê-la se apaixonar novamente.
Permitindo-me romantizar um pouco, afinal esta é a pauta, a lógica da vida real é diferente, mas se a gente pega 10% da determinação, criatividade e real intenção em se fazer interessante do personagem, certamente teríamos uma estratégia mais alinhada com as nossas personas.
E, no fim, comprovou-se que uma conexão de verdade é capaz de vencer as barreiras do consciente e despertar uma memória afetiva. Passada essa fase, pouco importam suas ações. A credibilidade da sua marca (pessoal ou profissional) já fala por si só.
E aí, daria notas diferentes a essas 4 obras? Lembrou de outro filme? Comenta aqui e vamos debater as técnicas em confronto com o cotidiano. Faz mais sentido, né?